O Dzogchen(*) é considerado um ensinamento muito elevado, contendo práticas que conduzem diretamente a uma realização tão completa quanto o corpo de luz. Ninguém, em qualquer das escolas budistas, nega que o Dzogchen seja um ensinamento elevado, até mesmo o mais elevado. Mas o que dizem é que seria elevado demais – de fato, além da capacidade das pessoas comuns – e falam dele quase como se só pudesse ser praticado por seres realizados. Mas se um ser é realizado de verdade, não precisa de nenhum caminho.
De acordo com textos do próprio Dzogchen, há apenas cinco capacidades que alguém deve ter para poder praticá-lo e, se alguém se examina e descobre que essas cinco capacidades não estão faltando, então nada lhe falta. E, caso alguma destas capacidades esteja ausente, pode-se começar a trabalhar para desenvolvê-la. Mas na maioria das pessoas elas provavelmente estarão presentes.
CINCO CAPACIDADES NECESSÁRIAS PARA A PRÁTICA DO DZOGCHEN
Chögyal Namkhai Norbu Rinpoche
PARTICIPAÇÃO
Isso significa que se deve ter um desejo de ouvir e entender o ensinamento. Mais que isso, significa que a pessoa oferece ativamente cooperação total para trabalhar em conjunto com o mestre. Não é só o mestre que explica, o discípulo também é exigido.
DILIGÊNCIA
Significa que se deve ser consistente em sua participação, e não oscilar em seu compromisso, mudando de opinião de um dia para o outro e continuamente protelando a ideia de fazer alguma coisa.
CONSCIÊNCIA PRESENTE
Isso significa que a pessoa não deve se distrair. Deve-se permanecer presente no momento, a cada momento. Não adianta saber toda a teoria do ensinamento e mesmo assim viver distraído de forma comum.
PRÁTICA PROPRIAMENTE DITA
Deve-se efetivamente entrar no estado de contemplação. Não é suficiente apenas saber como praticar; o indivíduo deve se engajar de modo efetivo na prática. Isso é ingressar no caminho da sabedoria.
PRAJÑA
No sentido absoluto, essa palavra sânscrita significa “conhecimento superior” ou “conhecimento transcendental”. Entretanto, nesse caso, a condição indicada pelo termo é principalmente relativa e indica a posse da capacidade intelectual necessária para entender tudo o que for ensinado. Também implica a presença da perspicácia necessária para captar diretamente o que é apontado além das palavras, e ingressar efetivamente na dimensão de conhecimento transcendente que as palavras estão indicando. Desse modo, ganha-se acesso à própria sabedoria.
fonte do texto:
NORBU, Chögyal Namkhai. O cristal e o caminho de luz: sutra, tantra e dzogchen. Teresópolis: Lúcida Letra, 2017. p.162-169
Disponível em https://www.lucidaletra.com.br/collections/budismo/products/o-cristal-e-o-caminho-de-luz-sutra-tantra-e-dzogchenfonte da imagem:
Chögyal Namkhai Norbu. [2010?]. Disponível em http://dzog-chen.blogspot.com/
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(*) Para uma breve descrição sobre o Dzogchen, acesse o site http://dzogchen.tumblr.com/post/102008157569/dzogchen-é-o-conhecimento-de-nossa-própria, onde consta a seguinte explicação:
“A palavra tibetana Dzogchen, abreviação para Dzogpa Chenpo ou “Grande Perfeição”, não é o nome de uma escola ou seita, mas indica o conhecimento de nosso verdadeiro estado. É o conhecimento direto de que nossa verdadeira natureza é “Dzogchen” — completa, pura, perfeita desde o princípio, além de qualquer limitação ou condicionamento. Este estado primordial não precisa ser construído ou alcançado através de práticas espirituais ou no final de um caminho, mas sim descoberto em nossa experiência mais imediata.”