Que é a transcendência no ser humano?
É o seu lado de abertura; é sua capacidade de ultrapassagem; é sua ousadia de romper interditos; é sua liberdade essencial. Essa dimensão convive com a outra: é um ser situado no espaço e datado no tempo; é um ser enraizado nos limites da realidade; é um nó concreto de relações. Ambas as dimensões convivem no único e mesmo ser humano. Ele é histórico e utópico; é feito e sempre por fazer; é uma pulsão infinita aprisionada nos limites espaçotemporais; é a convergência dos opostos.
Sendo transcendente e imanente, vivendo entre estas duas forças que o puxam cada qual para o seu lado, o ser humano vive permanentemente um drama. Como contentar os dois chamados: um para o céu e o outro para a terra? Um para o cume da montanha e o outro para o abismo profundo?
A experiência existencial que se faz é esta: somente saindo de si em direção ao outro, fica bem em casa; somente está bem em casa quando se abre ao diferente e interage com ele; só dando é que recebe.
Em conclusão podemos dizer: o ser humano se descobre um projeto infinito (transcendência), realizado no finito (imanência).
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A conclusão que tiramos é esta: o ser humano nunca se deixa enquadrar por nenhum arranjo existencial, por nenhuma compreensão da realidade, por nenhuma religião, por nenhuma sociedade, por nenhuma definição. Embora sempre concreto, ele desborda por todos os lados. Tudo é menor diante dele. Ele não cabe nem dentro do universo. Ele o transcende. Busca encontrar aquela Energia que tudo origina e sustenta. Quer encontrar-se com ela, dialogar com ela, entrar em comunhão com ela e, quem sabe, fundir-se nela.
fonte do texto:
BOFF, Leonardo. Tempo de transcendência: o ser humano como projeto infinito. 2021. Reimpressão. Petrópolis: Vozes, 2021. p. 22-23.