Uma palavra com poder é a que vem do silêncio, aquela que frutifica é a que emerge do silêncio e a ele retorna. É uma palavra que nos recorda o silêncio de onde a mesma provém e nos leva de volta a ele. A que não está enraizada no silêncio é fraca e impotente como “bronze que soa ou tímpano que retine” (1Cor 13,1).
Tudo isso só é verdadeiro quando o silêncio que origina a palavra não representa vazio e ausência, mas plenitude e presença; não o silêncio humano do embaraço, da vergonha ou da culpa, mas o divino no qual o amor repousa em segurança.
Aqui podemos vislumbrar o grande mistério do qual participamos por meio do Silêncio e da Palavra, o mistério da própria fala de Deus. Em seu silêncio eterno, Ele pronunciou o Palavra e, através dela, criou e recriou o mundo. No princípio, Deus verbalizou a terra, o mar e o céu. Verbalizou o sol, a lua e as estrelas. Verbalizou as plantas, os pássaros, os peixes, os animais ferozes e os mansos. Finalmente verbalizou o homem e a mulher. Então, na plenitude dos tempos, a Palavra de Deus por meio da qual tudo foi criado, se fez carne e concedeu o poder, a todos os que creem, de se tornarem filhos dele. Em tudo isso, ela não rompe o silêncio de Deus, e sim revela imensurável riqueza de seu silêncio.
Ao entrar no deserto egípcio, os monges desejavam fazer parte do silêncio divino. Ao falar, por esse silêncio, às necessidades de seu povo, buscavam participar do poder criador e recriador da Palavra divina.
As palavras só têm o poder de criar comunhão e, assim, uma vida nova, quando personificam o silêncio do qual emergem. Tão logo passamos a nos apoderar uns dos outros por meio de nossas palavras, e a usá-las para nos defender ou ofender o outro, a palavra já não fala do silêncio. Mas, quando ela evoca a tranquilidade conciliadora e restauradora de seu próprio silêncio, poucas são necessárias: muito pode ser dito sem que muito seja falado.
Dessa forma o silêncio é o mistério do mundo futuro, ele nos mantém peregrinos e nos impede de nos enredar nas inquietações desta era. Ele guarda o fogo do Espírito Santo que habita em nós, permite que pronunciemos uma palavra que participa do poder criador e recriador da Palavra de Deus.
fonte do texto:
NOUWEN, Henri. O caminho do coração: a espiritualidade dos padres e madres do deserto. Petrópolis: Vozes, 2020. p.54-56
Disponível em <https://www.livrariavozes.com.br/caminhodocoracao8532644082/p>