No espaço que o pensamento cria à sua volta não há amor. Esse espaço separa os homens, e nele está contido todo o vir a ser, a luta que é viver, a angústia e o medo. A meditação é a ausência deste espaço, a ausência do “eu”. O relacionamento tem então um significado completamente diferente, porque naquele espaço, que não é criado pelo pensamento, o “outro” não existe, porque “eu” não existo.
A meditação não é, pois, andar à procura de alguma visão, mesmo que esta tenha sido “santificada” pela tradição. A meditação é, pelo contrário, um espaço sem fim onde o pensamento não é capaz de entrar. Geralmente, para nós, o exíguo espaço gerado pelo pensamento em volta de si mesmo, que é o “eu”, é extremamente importante, por ser tudo o que a mente conhece, identificando-se a si própria com tudo o que está dentro desse espaço. E o medo de não existir como um “eu” nasce nesse espaço. Mas, na meditação, quando tudo isto é compreendido, a mente pode penetrar numa dimensão do espaço onde a não-ação é ação.
Não sabemos o que é o amor, porque no espaço criado à sua volta pelo pensamento, como um “eu”, o amor é entendido como um conflito do “eu” e do “não-eu”. Este conflito, esta tortura, não é amor.
O pensamento é a própria negação do amor e ele não pode entrar nesse espaço onde o “eu” não existe. Nesse espaço reside a bênção que o homem procura e não pode encontrar, porque a procura dentro das fronteiras do pensamento , e este destrói o êxtase dassa bênção.
KRISHNAMURTI, Jiddu. Meditações. 2. ed. Lisboa: Editorial Presença, 2005. p.47-48.