AUSÊNCIA DE CONFIANÇA: OBSESSÃO POR CONTROLE E PODER

Por insegurança, os seres humanos exercem poder de querer controlar o outro provocando-lhe medo. Queremos controlar nossos filhos, controlar o trânsito, controlar o tempo, controlar que não haja águas-vivas no mar, mas não somos capazes de controlar nossa própria mente. Queremos controlar o espaço, a lua e somos incapazes de controlar o que acontece dentro de nós mesmos.

Muitas organizações ainda funcionam com o velho esquema de exercer o poder e controlar causando medo, submissão e repressão. Os diretores estão presos na cadeira do poder. O poder é uma droga. Custa para desabituar-se. “Influenciar na vida dos outros nos alivia de nossas próprias inseguranças”, disse Erich Fromm. Quando as pessoas são obrigadas a prestar contas a você, você tem a opção de premiar ou penalizar. O poder tem um efeito positivo sobre nossas próprias inseguranças.

O medo da perda de poder aparece naqueles que estão motivados para influenciar terceiros ou para ter pessoas submissas às quais possa controlar e dominar. Provavelmente, é o mais importante no mundo executivo, embora abertamente não seja reconhecido. Do medo da perda de poder derivam o medo de perder um cargo de influência e o medo de não ser reconhecido socialmente.

O ego, entendido como uma identidade limitada do eu corporativo, nos faz pensar e sentir que os objetos, as pessoas, as propriedades e muitas outras coisas “são nossos”. Esses sentimentos se ampliam em âmbito nacional e internacional: “Essa parte do mar é nossa” e “Essa parte do céu é nossa”. Quando os controladores aéreos entram em greve, ou quando há guerras ou outras situações de desacordo e conflito, não se pode voar por uma parte do céu e deve-se voar por outra como se o céu fosse uma propriedade privada.

É certo que, para o funcionamento e organização de suas vidas, comércio e intercâmbio, as pessoas precisam de certas leis e definição de espaços. Mas não se deve esquecer de que, se se apegarem a isso, tal atitude leva a reações violentas. Além dessa realidade, existe outra mais importante: a realidade espiritual.

O ego levou a crer que uma pessoa pode pertencer a outra como se fosse propriedade privada pelo simples fato, por exemplo, de lhe ter dado a vida. Quando existe o sentimento de posse, quando pensamos que essa pessoa, essa cadeira, esse cargo, esse carro, é nosso, automaticamente temos medo de perdê-lo ou de que alguém o tome de nós. Essa consciência do meu nos leva ao medo de perder aquilo que é nosso e, consequentemente, isso nos faz defender os direitos daquilo que pensamos ser nosso. Quando essa defesa é feita a partir do medo e da posse, são provocadas reações violentas.

Não estou querendo dizer que tudo seja de todos ou que haja um descontrole. É uma questão de consciência interna: esse sentimento egoísta que nos leva a querer ter mais e sentir que o que valemos depende de quanto temos, e não do que somos e da qualidade do que somos. Esse pensamento e esse sentimento, fundamentados na crença de que “eu valho de acordo com o que eu tenho”, deixam-nos com um vazio interior profundo e provocam medos, apegos, ira e violência.

A obsessão pelo controle costuma estar fundamentada na desconfiança, na falta de autoestima verdadeira, na insegurança e no medo da incerteza e da liberdade. Levada ao extremo, implica aversão a correr riscos, resistência a mudança e inibição da própria criatividade e dos outros. A obsessão pelo controle surge da incapacidade para reconhecer e apreciar o valor da espontaneidade e da alegria.

Quanto menos confiança, mais necessidade de controle. A empresa hierárquica convencional se fundamenta em um desejo excessivo pelo controle baseado no temor e na insegurança. Sem confiança, o temor faz hipertrofiar as estruturas de controle e gera sistemas pouco fluentes, burocráticos, lentos, tristes, repetitivos, previsíveis e, resumindo, ineficientes e emocionalmente atrofiantes. (GARCÍA, S. Autoestima, estrés y trabajo. Madri: McGraw-Hill, 2005.)

 

 

fonte do texto:
SUBIRANA, Miriam. Atreva-se a viver: medo, coragem e plenitude. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. p.45-47.
Disponível em <https://www.editorabk.org.br/pd-41b93e-atreva-se-a-viver-miriam-subirana.html>