“O ponto de transição é sugerido pelo fato de que após as linhas obscuras expulsarem do hexagrama as linhas luminosas acima, uma outra linha luminosa surge novamente, embaixo. O tempo das trevas passou. O solstício de inverno traz a vitória da luz. Este hexagrama é atribuído ao décimo primeiro mês, o mês do solstício”.
“A figura deste hexagrama mostra a energia yang que ressurge, ainda oculta no âmago da terra. As cinco linhas yin voltam-se para o broto, reafirmando a devoção receptiva da terra ao acolher os novos frutos que dela irrompem, a cada novo florescer. […] Há uma analogia implícita com o surgimento imperceptível da luz, na noite profunda; à meia-noite, nenhum sinal externo permite vislumbrar luminosidade alguma, mas é do interior das trevas que volta a brilhar a primeira centelha. Nesse contexto, qualquer pressa, impaciência ou precipitação acarreta infortúnio. Deve dar o tempo necessário ao novo fruto, sem forçá-lo”.
JULGAMENTO
RETORNO. Sucesso.
Saída e entrada sem erro.
Amigos chegam, sem falha.
Para adiante e para trás segue o caminho.
Ao sétimo dia vem o Retorno.
É favorável ter aonde ir.
“Após uma época de decadência vem o ponto de transição. A luz poderosa que tinha sido banida retorna. Porém, este movimento não é provocado pela força. Como a característica do trigrama superior K’un é a devoção, o movimento é natural e surge espontaneamente. Por isso a transformação do antigo também torna-se fácil. O velho é descartado e o novo, introduzido. Ambos os movimentos estão de acordo com as exigências do tempo e, portanto, não causam prejuízos. Formam-se associações de pessoas que têm os mesmos ideais. Como tal grupo se une em público e está em harmonia com o tempo, os propósitos particulares e egoístas estão ausentes, e assim erros são evitados. A ideia de retorno baseia-se no curso da natureza. O movimento é cíclico e o caminho se completa em si mesmo. Por isso não é necessário precipitá-lo artificialmente. Tudo vem de modo espontâneo e no tempo devido. Esse é o sentido do céu e da terra.”
“Todos os movimentos se completam em seis etapas, e a sétima traz o retorno. Deste modo, o solstício de inverno, com o qual tem início o declínio do ano, ocorre no sétimo mês após o solstício de verão. Do mesmo modo, o nascer do sol ocorre na sétima hora dupla, após o crepúsculo. Por isso o sete é o número da luz nova e surge quando ao seis, o número da grande escuridão, se adiciona a unidade. Assim, o estado de repouso dá lugar ao movimento”.
“O ponto de mutação remete a uma encruzilhada; e cada encruzilhada remete à importância de escolher o caminho certo. Silenciar remorsos, saudosismos e apegos passados, pois o desabrochar deve se dar espontâneo, no seu devido momento. Deve-se respeitar com delicadeza o tempo próprio de cada ser – a cada planta, o ritmo do seu florescer. Este é um precioso desenvolvimento interno, e no momento oportuno a ajuda necessária chega naturalmente, pois mesmo incubada, a fagulha da vida está em constante processo de renovação“.
IMAGEM
O trovão no interior da terra:
a imagem do PONTO DE MUTAÇÃO.
Assim, os antigos reis
fechavam as passagens durante o solstício.
Comerciantes e viajantes não transitavam
e o soberano não transitava pelas províncias.
“Na China, o solstício de inverno foi sempre celebrado como a época de repouso do ano – costume que se conserva até hoje, no período de descanso do ano novo. No inverno, a energia vital, simbolizada pelo trovão, “O Incitar”, encontra-se ainda no interior da terra. O movimento está em seus primórdios e por isso deve-se fortalecê-lo através do repouso, para que não se dissipe num uso prematuro. Esse princípio básico, de fazer com que a energia nascente se fortifique através do repouso, aplica-se a todas as situações similares. A saúde que retorna após uma doença, o entendimento que ressurge após uma discórdia, enfim, tudo o que está recomeçando deve ser tratado com suavidade e cuidado, para que o retorno leve ao florescimento“.
fontes do texto:
MUTZENBECHER, Alayde. I Ching: o livro das mutações: sua dinâmica energética. Rio de Janeiro: Gryphus, 2010. 2.ed.
WILHELM, Richard. I Ching: o livro das mutações. São Paulo: Ed Pensamento, 1997.