DEVAGAR O TEMPO

A engenharia espacial e ótica do Telescópio James Webb nos tem revelado imagens muito muito espetaculares. As pessoas com suas brilhantes mentes e pesquisas que conseguem vislumbrar e explicar essas imagens em inúmeros artigos e mídias nos dizem que o Webb pela primeira vez capturou inúmeras e inesperadas, mas não indesejadas, imagens de galáxias nunca antes vistas.

Para que possamos compreender a enormidade, uma equipe de cientistas de um tal CEERS publicou uma imagem mosaico de 690 quadros de instantâneos clicados com a NIRCam, a principal geradora de imagens do Webb. A imagem é bem grande em resolução e tamanho de arquivo, recomendam que baixemos em computador para explorar cada trecho, ampliando a área de visualização. Informaram que a imagem mosaico é de um pequeno pedaço do céu perto da constelação Ursa Maior.

Eu fiz isso. Baixei a imagem em alta resolução no meu computador e fiquei brincando com ela, ampliando alguns trechos, mesmo que não consiga compreender muito como é que conseguem a engenhosa façanha de colocar um equipamento grande no espaço, montá-lo, operá-lo, enviar instruções, receber imagens, etc. e tal. Para admirar não careço do fazer e do saber da ciência do universo, ainda que me instigue. Já li que galáxias são aglomerados de milhões, ou bilhões, ou trilhões de estrelas, planetas, matéria escura e um monte de outras tantas coisas não nomeadas e não capturadas pela nossa linguagem. E que o que chamamos de universo se compõe de bilhões ou trilhões ou um enorme número de galáxias com tamanhos inesperados e inimagináveis.

Mas a poesia me persiste.

Ao mesmo tempo que imaginava as desconhecidas galáxias da imagem baixada em meu computador, vagarosamente uma canção chegou e tocou meu coração e minha emoção. Badi Assad cantando Ilha das Flores, de seu novo álbum também titulado Ilha. No mesmo instante fui transportado ao meu universo interno, este meu imenso espaço que sempre observo e continuamente inicio novos caminhos a explorar, trilhar, lapidar, ou retornar caminhos que ainda não alcancei coragem para completá-los. Às vezes brilho de estrela, às vezes matéria escura. Às vezes, meu Deus, me reconhecer pequeno de tanta imensidão, e também minhas grandezas despertas nos laços de amor sempre maior, imerso no Sopro que me respira, no Pulsar do coração ressonante. Lágrimas emocionadas que traduzem oração. Presentes e apoios que encontro em meu caminho: Relações, minhas filhas, família, amigas e amigos, sonhos, utopias… canções.

Diz a canção “devagar o tempo nos levando pra dançar”. E de novo me lembrar que sem lentidão não há paladar, sem lentidão não há despertar; e que é necessário resgatar a nossa relação com o tempo.

No meu experimento de sincronicidade as imagens de galáxias longínquas se fundem na poesia de uma canção para que eu me demore no caminho do Ser, pés no chão, contemplando o universo: “nós pertencemos ao cosmos porque há em nós antigas estrelas”.

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Para fazer o download da imagem:
baixe imagem em alta resolução – CEERS

Para conhecer mais sobre o Telescópio James Webb acesse <https://webbtelescope.org>

Abaixo a letra e o link para ouvir a canção do álbum “Ilha” de Badi Assad:

ILHA DAS FLORES
Badi Assad e Lívia Mattos

À deriva, a me encontrar
Me acheguei neste lugar
Mãos e olhares na lida
Aprendendo a saudar

Toda essa maravilha
Rodeada de água
Tocando os meus pés no chão
Me plantando pra voar

Devagar o tempo
nos levando pra dançar
Devagar o tempo
com o vento

Trago no meu peito o mar
Rio doce pra curar
Trago o infinito amor
no pensamento

Que essa terra seja
A intuição possa
Que a calma reja
Que a justiça viva

crédito das imagens:
NASA/STScI/CEERS/TACC/S. Finkelstein/M.Bagley/Z. Levay.
Esta imagem – um mosaico de 690 quadros individuais tirados com NIRCam no telescópio espacial James Webb – cobre uma área do céu cerca de oito vezes maior que a primeira imagem de campo profundo de Webb publicada em 12 de julho. É de um pedaço de céu perto da Constelação da Ursa Maior. Esta é uma das primeiras imagens obtidas pelo Cosmic Evolution Early Release Science Survey (CEERS)
Disponível em <https://ceers.github.io/ceers-first-images-release>