[…] Comecei com a história do Rabino Yoshua ben Levi que perguntou a Elias: “Quando o Mestre virá?” Essa história tem uma conclusão importante. Quando Elias lhe explicou que poderia encontrar o Messias entre os pobres nos portões da cidade o Rabino Yoshua ben Levi foi até o Messias e lhe disse:
“A paz esteja convosco, meu mestre
e professor”.
O Messias respondeu: A paz esteja contigo,
filho de Levi”.
O rabino perguntou:
“Quando o mestre virá?”
“Hoje”, ele respondeu.
O Rabino Yoshua voltou até onde estava o Elias,
que perguntou:
“O que ele lhe disse?”
“Ele me enganou porque disse ‘Hoje’, e não veio”.
Elias disse: “Isso é o que ele lhe disse:
‘Hoje, se você ouvir sua voz'”.
Mesmo quando sabemos que somos chamados a ser curadores feridos, ainda é muito difícil reconhecer que a cura precisa ocorrer hoje, porque vivemos em uma época na qual nossas feridas se tornaram visíveis demais. Nossa solidão e isolamento tornaram-se uma parte tão grande da nossa experiência humana que chamamos por um Libertador que nos tirará de nosso sofrimento e nos trará justiça e paz.
No entanto anunciar que o Libertador está entre os pobres, que as feridas são sinais de esperança e que hoje é o dia da libertação é um passo que muitos poucos podem dar. Mas é exatamente o anúncio do curador ferido: “O mestre está chegando – não amanhã, mas hoje; não no ano que vem, mas neste ano; não depois que todo nosso sofrimento tiver passado, mas no meio dele; não em outro lugar, mas aqui mesmo, onde nos encontramos”.
E, com uma confrontação desafiadora, ele diz:
Oxalá escutásseis hoje a sua voz:
“Não endureçais o vosso coração como em Meriba,
como aquele dia em Massa, no deserto,
quando vossos pais me desafiaram
e me puseram à prova, embora tivessem
visto minha ação!”
(Sl 95,7-9)
Se, de fato, ouvirmos a voz e acreditarmos que o ministério é um sinal de esperança porque torna visíveis os primeiros raios de luz do Messias vindouro, podemos fazer com que nós e os outros entendamos que já carregamos em nós a fonte de nossa própria busca. Assim, o ministério pode ser de fato um testemunho da verdade viva de que a ferida, que causa nosso sofrimento agora, nos será revelada mais tarde como o lugar onde Deus introduziu uma nova criação.
fonte do texto:
NOUWEN, Henri. O curador ferido: ministério na sociedade contemporânea. Petrópolis, RJ: Vozes, 2020. p.124-126.
Disponível em <https://www.livrariavozes.com.br/curadorferido-o-8532664679/p>
“Quando nos perguntamos honestamente quem são as pessoas mais importantes na nossa vida, descobrimos que muitas vezes são aquelas que, em vez de nos darem conselhos, soluções ou curas, escolheram partilhar a nossa dor e tocar nas nossas feridas com uma mão suave e calorosa. O amigo que consegue ficar conosco em silêncio num momento de desespero ou de confusão, que consegue ficar conosco numa hora de luto ou de perda, que consegue tolerar o não saber, o não sarar, o não curar e estar conosco diante da nossa impotência, esse é o amigo que importa.” Henri Nouwen